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Crise energética e reviravolta rusa

Crise energética e reviravolta rusa | Olhaparo


Crise energética e reviravolta rusa

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 “A demonização de Vladimir Putin não é uma política; é um álibi para a ausência de uma” 

Henry Kissinger (criminoso de guerra e especialista em argalhar invasões e golpes de Estado)

Expansão da OTAN  continua a gerar conflito com a Rússia. Um segundo aumento militar russo em grande escala perto das fronteiras da Ucrânia em 2021 levantou temores. Seica o motivo alegado não é apenas qualquer outro, a Rússia colocou explicitamente sobre a mesa sua condição fundamental e incontornável para estabilizar um novo equilíbrio estratégico europeu após o desaparecimento da URSS despois que, na década de 1990, os EUA promoveram a cooptação dos países do antigo Pacto de Varsóvia e a incorporação da Ucrânia e a Geórgia como países membros da OTAN

Um terço das reservas mundiais de gás natural encontram-se nos territórios da Rússia e do Irã, que um quarto do gás consumido pola China vem do Cazaquistão, e que hoje as exportações do gás russo já são responsáveis por 40% do mercado europeu, onde os russos concorrem diretamente com o gás natural e que a Europa tomou a decisão de privilegiar o gás na montagem do seu cerne energético. Apenas a Rússia tem capacidade imediata para aumentar a oferta de gás que os europeus precisam, especialmente a Alemanha durante a nomeada “transição energética” europeia, programada para alcançar a meta de emissão zero de carbono em 2050.

Dito isto, em 2008 a aliança ocidental comprometeu-se com a eventual adesão ucraniana e georgiana, um passo que Moscou há muito indica que veria como cruzar a linha vermelha e exigir uma resposta de segurança russa. Moscou parece desiludida com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, embora não tenha abandonado seu objetivo duma Ucrânia alinhada e procura uma promessa juridicamente vinculativa de que a OTAN vai parar de expandir-ser para o Leste. A questão é que há uma disparidade entre os objetivos de segurança de Moscou e os EUA e os seus parceiros e com as negociações de paz paralisadas e uma cooperação militar ucrainesa cada vez mais estreita com os estados membros da OTAN.

Putin destacou os exercícios intensificados e as atividades navais e aéreas realizadas sob a iniciativa Tailored Forward Presence da OTAN no Mar Negro e negou que Rússia esteja planejando atacar a Ucrânia e, em vez disso, acusa a Ucrânia e os estados ocidentais de “provocações”. Sergey Lavrov,  ministro das Relações Exteriores da Rússia, sugeriu que a intensificação dos combates em Donbas entre os independentistas que a Rússia apoia e as forças ucranianas é culpa de Kiev, e que está tentando atrair Moscou “para algum tipo de ação forçada”, enquanto o porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, postulou que a Ucrânia, sob a cobertura de exercícios com a OTAN, estava planejando uma ofensiva militar em Donbas ao lado de “soldados americanos e britânicos na região, que estão crescendo em número”.  O 1º de dezembro,  Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, afirmou que a Ucrânia moveu 125.000 soldados para Donbas.

A contundência na previsão da intervenção militar russa e a firmeza nas consequências que ela imporia caso ela finalmente acontecesse gerou de súbito uma morea de dúvidas que tem a ver com as expectativas geradas após um ano de governo Biden. É notório o retorno ao multilateralismo, o tratamento diferente do governo de Donald Trump com seus “aliados históricos” (Europa e OTAN), o retorno ao Acordo de Paris e à OMS. Mas também continuidades, não apenas retóricas, mas também estratégicas, em relação à China e à Rússia como ameaças à hegemonia em devalo dos EUA.

Biden deu a entender que a responsabilização contra a Rússia “vai depender de como ela fai isso”,  porque “uma cousa é uma pequena incursão, que terminou com uma briga para ver o que fazer e como fazer”. De Kiev, os políticos ucranianos espaventaram, percebendo que indiretamente a porta estava aberta para alguma ação militar russa  contra os interesses da Ucrânia. Para evitar maiores danos, a Casa Branca saiu minutos depois para esclarecer dúvidas e manter uma posição firme. “Se alguma força militar russa cruzar a fronteira com a Ucrânia, será tratada como uma nova invasão e, portanto, enfrentará uma resposta rápida, severa e unida dos Estados Unidos e seus aliados”, disse a porta-voz presidencial Jen Psaki. El gobierno más progresista de la historia, já se apressou em enviar navios para o Mar Negro e o Mediterrâneo, oferecendo aviões à Bulgária, enquanto nem a França nem a Alemanha o fixeram.

As sanções que estão sendo preparadas, segundo Biden, são as mais fortes que já viram, a ponto de afetar negativamente as economias dos EUA e da Europa. “A imposição de sanções às transações em dólar, e outras coisas, terá um impacto negativo nos Estados Unidos, assim como nas economias europeias, e um impacto devastador na Rússia. Com isso, tenho que ter certeza. sintonizar à medida que avançamos “, afirmou. Ao mesmo tempo em que reforçam a mensagem de que a prioridade é a rota diplomática, os americanos estão preparando o terreno para quando linhas vermelhas forem ultrapassadas, como o compromisso de entregar US$ 200 milhões em ajuda militar a Kiev. Um jogo aprovado no final de dezembro, mas tornado público na quarta-feira, com Blinken em reuniões e encontros com dirigentes ucranianos. Os Estados Unidos passaram a obriga para o Kremlin, que recebeu total responsabilidade por decidir como resolver o “momento crítico” na Ucrânia. “Em última análise, é uma decisão do presidente Putin”, disse Blinken em um gesto que sugere que a paciência dos EUA está se esgotando e que são necessários compromissos firmes para garantir a desescalada. Biden diz que uma potência nuclear como a Rússia  invadindo outro país “não acontecia desde a Segunda Guerra Mundial”.  Segundo o Financial Times “com os EUA distraídos e a Europa sem influência militar e unidade diplomática, Putin pode sentir que agora é o melhor momento que a Rússia terá para atacar a Ucrânia ”(Financial Times, FT Weekend, 15 de janeiro de 2022).É linguagem pròpria do imperialismo.

Abrandar a retórica sobre a expansão da OTAN poderia acalmar alguns dos temores de Moscou sem necessariamente revisar a política de portas abertas da aliança ou aceitar a noção duma esfera de influência russa. Lembremos que os EUA são a única potência nuclear que realmente usou bombas nucleares em civis e invadiu e interveio em dezenas de países desde a Segunda Guerra Mundial: Coréia, Vietnã, Cuba, Granada, Panamá, Iraque (duas vezes), Afeganistão, Haiti, Síria, etc. Além disso, durante toda a década de 90, os EUA e a OTAN promoveram ativamente a cooptação dos países do antigo Pacto de Varsóvia e o desmembramento do próprio território russo e participaram das Guerras da Bósnia, da Iugoslávia e do Kosovo, para iniciarem de imediato a instalação de armamento balístico nos países da Europa Central que foram sendo incorporados à OTAN.

Um grande golpe às previsões otimistas anteriores de que a pós-Guerra Fria abriria novas oportunidades para um sistema de segurança europeu mais benigno que beneficiaria a vizinhança compartilhada entre a UE e a Rússia.  O que começou como um disputa sobre um acordo comercial com a UE, no final de 2013, rapidamente se alastrou no conflito mais relevante da Europa desde os horrores das guerras na Iugoslávia na década de 1990. A questão da Crimeia, em particular, parece estar nos empurrando de volta para os séculos XIX…e XX, épocas em que as grandes potências conquistavam territórios violentamente quando bem entendessem, e outras sofriam o que deviam. Porém, as ensões Moscou-EUA, EUA e OTAN começaram alguns anos antes com a intervenção da OTAN na Líbia ou na guerra Geórgia-Rússia de 2008. Por sua vez, o ex-presidente Dmitry Medvedev admitiu que as perdas das primeiras sanções somaram polo menos dezenas de bilhões de euros para a economia russa e a obrigou a se concentrar em seu próprio mercado. Oleg Ignatov, do Crisis Group, diz que “sanções severas terão consequências graves”. A Rússia é o o quinto parceiro comercial da União Europeia,. E é um parceiro importante para países como Alemanha e Itália. “Será moi difícil para o Ocidente tomar medidas  rígidas, porque isso prejudicaria a si mesmo, especialmente a Europa”, afirma Ignatov. Mas a Rússia depende mais dos 27 países da UE, que são seus principais parceiros comerciais. Um conflito com a Ucrânia prejudicaria as importações e exportações, que também poderiam ser diretamente afetadas por sanções, assim como o sistema bancário. Segundo o Crisis Group,  “as capitais ocidentais e Kiev devem definir como responderão à agressão russa e comunicar claramente o perigo de escalada a Moscou. Se o Kremlin recuar, negociações renovadas sobre a Ucrânia devem ser combinadas com acordos para limitar desdobramentos militares e ações em torno de focos europeus”

Mas o que explica a crise e sua gravidade? Focarmos apenas as relações entre aliança atlântica e a Rússia após a Guerra Fria, ocultaria ou desleixaria outras variáveis ​​importantes que podem ser encontradas no desenvolvimento político doméstico da Ucrânia. Embora  procuremos a imagem  estreita do estrangulamento russo da economia ucraniana, não poderíamos ignorar os problemas institucionais caseiros através dos quais estruturas de poder, clientelismo e redes paternalistas e padrões comportamentais híbridos permaneceram intactos por trás da fachada de eleições democráticas ucrannianas, levando o país a uma situação econômica e abismo político desde 1991. Além disso, não deve passar despercebido que as acusações contra a Rússia feita por um grande número de políticos – mesmo que alguns desses acusações tenham um pouco de certo – nalguns casos transcendem à criação de imagens inimigas, tendência que se presta a um simbolismo desconcertante  à luz das recentes observâncias que marcam o 100º aniversário do início das hostilidades no início da Primeira Guerra Mundial. Se a distribuição das reservas de gás fala por si de sua importância geopolítica e geoecoómica. Con certeza, a Rússia foi moi invadida, talvez não mais do que outros países e o próprio Império Russo subjugou outras terras por séculos mas não é ruim notar também outras possíveis objeções da Rússia, já que essa mesma fronteira foi invadida polas tropas polonesas e católicas do rei Sigismundo II, no início do século XVII; polas tropas suecas e luteranas do rei Carlos XII, no início do século XVIII, polos papistas cavaleiros teutônicos, no início do século XII (termina no início do século XIV); polas tropas francesas de Napoleão Bonaparte, no início do século XIX; e polas tropas da Alemanha nazista e sua Operação Barbarossa, iniciada em  junho de 1941, da qual participaram 3,5 milhões de soldados, responsáveis ​​pola morte de cerca de 20 milhões de russos.

Numa atmosfera de distorções, brigas de verdade e acusações mútuas, é preciso, como possível , a difícil procura de análise imparcial que permita ao leitor obter uma visão mais profunda das causas raiz e imediatas da crise na Ucrânia. Segundo o livro “Frontline Ukraine: Crisis in the Borderlands”(2015) escrito por Ricardo Sakwa, professor de russo e Política Europeia na Universidade de Kent para enxergarmos mínimamente a crise da Ucrânia é preciso explicar suas origens, e fornece uma relato aprofundado dos eventos desde a revolução de fevereiro até as eleições parlamentares do país em outubro de 2014. Argumenta que as questões domésticas estão no cerne do que era essencialmente latente conflito: o leste e sul da Ucrânia “pluralista” de língua russa entraram em confronto com o grupo “monista” pró-europeu, mais nacionalista, de língua ucraniana, no oeste. Esses fatores e o “fim assimétrico” da Guerra Fria, que desequilibrou a ordem mundial, também contribuiu para a inevitabilidade do conflito. Enquanto a concepção monista defenduma oficialmente monolíngue, modelo de Estado unitário e culturalmente específico que deliberadamente nega caminhos históricos comuns com a Rússia, a noção pluralista não necessariamente nega a necessidade da centralidade de características culturais ucranianas, como a língua, mas enfatiza a ideia duma país com múltiplas identidades que podem tornar-ser em algum tipo de estado consociável com boas relações com todos os seus vizinhos. Sakwa não cai na armadilha primordialista de reduzir o conflito ao seu cerne supostamente exclusivamente étnico de ucranianos “étnicos” versus russos “étnicos” ou “Ucrânia Ocidental” versus “Ucrânia Oriental”. E ilustra issa dicotomia como um embate ideológico. De feito, em ambos os lados do campo de batalha contemporâneo em torno de Donetsk e Lugansk, combatentes e soldados geralmente falam apenas russo. Mas a dicotomia de Sakwa explica bem por que figuras históricas controversas como Stepan Bandera ou Vladimir Lenin são percebidas de forma tão diferente em diferentes regiões da Ucrânia.
Após uma descrição dessa dicotomia, o autor explica que a revolução de fevereiro de 2014 significou uma vitória temporária para o campo monista na Ucrânia. Mas elabora ainda que o choque dessas duas concepções diferentes foi através da tomada do poder do movimento Maidan, lastrado polo peso dos fascistas e neonazistas e imediatamente internacionalizado, transformando concepções contrastantes locais num grande ponto de conflito geopolítico com a Rússia entregando-se ao apoio neo-revisionista aos oponentes do novo governo de fevereiro de 2014. Neste contexto, porém, Sakwa expressa duras críticas dirigidas à UE e aos Estados Unidos ao afirmar e o Ocidente tem parte da culpa por a Rússia tornar uma potência revisionista. Em particular, critica o fracasso da UE em negar a Moscou a participação efetiva no processo de negociações de livre comércio UE-Ucrânia, uma vez que os resultados  teriam um impacto maciço na Rússia. Esta falha, de acordo com Sakwa, é apenas um indicador que revela como a Rússia foi sistematicamente excluída como um parceiro de diálogo – mas construtivo, bem como indispensável – na Europa após o colapso da União Soviética. Sem agochar a sua profunda decepção com o Ocidente, Sakwa afirma que a famosa caracterização de Putin da dissolução da União Soviética como “a maior catástrofe política do século XX” também foi tirada de contexto, interpretando deliberadamente a Rússia como uma nova forma da União Soviética. Essas distorções – apoiadas e divulgadas por funcionários da OTAN e da UE – também tiveram seu impacto ao plantar as sementes do conflito com a Rússia a nível retórico.  Além disso e pola mesma lógica, vozes extremistas das elites monistas ucranianas alimentaram o discurso internacional através do qual a diplomacia real tornou-se sem sentido e a dissidência entre o Ocidente e a Rússia só se aprofundou. 

No livro ecoa a narrativa do Estado russo, retratando uma Rússia que foi forçada tanto à anexação da Crimeia quanto à sua oposição ao governo de Kiev, devido à percepção de comportamento agressivo e ameaçador por parte da OTAN, da UE e da própria Ucrânia.No entanto, nao achamos uma apologética em relação à Rússia e suas ações na crise da Ucrânia. Mesmo que o autor pareça preferir o termo “reunificação” ao invés de “anexação” quando se trata da Crimeia, Sakwa aponta que a suposta ameaça à população russófona da Crimeia definitivamente foi exagerada tanto pola mídia russa quanto polos políticos. Além disso, o referendo da Crimeia, segundo o autor, não cumprir as normas internacionais e foi realizado sob a presença de soldados russos, constituindo assim uma violação da proibição da força. 

Quanto à narrativa do estado russo, Sakwa certamente levanta pontos que precisam ser levantados sobre a ameaça percebida polo país, em particular destacando questões sobre as quais o Ocidente deveria ter reconhecido  a posição da Rússia. No entanto, a inevitabilidade determinista que Sakwa propõe elimina quase completamente qualquer atribuição de culpa à Rússia e o papel que suas ações desempenharam na escalada do conflito na Ucrânia. Em particular, ignora a impacto do retorno de Putin à presidência em 2012 e a subsequente repressão à oposição política, ONGs, sociedade civil e mídia. Uma abordagem mais autoritária e agressiva dentro do governo russo elite contribuiu para a reação mais assertiva do país aos acontecimentos na Ucrânia. Deficiências do Ocidente e dos governos interinos e recém-eleitos em Kiev para lidar com a área de foco principal da crise. De fato, Sakwa levanta pontos de análise que não parecem ter sido levados em consideraçã para  informar da tomada decisão de enviar ; alguns exemplos importantes são a conversa vazada entre o vice-secretário de Estado dos EUA. Na altura, Victoria Nuland e o embaixador dos EUA na Ucrânia Geoffrey Pyatt sobre quem deve chefiar o governo interino da Ucrânia; a investigação falha do novo governo ucraniano sobre os tiroteios de atiradores de fevereiro de 2014 em Kiev; e pontos de interrogação sobre os elementos mais duvidosos dos governos interinos e novos da Ucrânia, tão rapidamente na confiança do Ocidente. 

Não é possível legitimar a violação russa da soberania da Ucrânia, sugerindo que foi simplesmente uma defesa da posição da Rússia de influência sobre o país em face do referido ataque de o triunvirato da OTAN, a UE e EUA
Porém,  não pode ser subestimado o impacto da incompatibilidade do Acordo de Associação da UE – cuja negociação desencadeou a crise de novembro de 2013 – com a adesão da Ucrânia a União Aduaneira (agora a União Econômica da Eurásia) que politizou a escolha que a Ucrânia teve que fazer em relação ao seu futuro econômico e, por padrão, político da Europa a falta de reconhecimento suficiente da importância do relacionamento da Rússia com a Ucrânia, e a percepção crescente desta última de que estava sendo marginalizada em seu antigo parceiro é uma crítica válida à política externa da UE.

Isto é particularmente verdade dada a dependência da economia ucraniana em relação à Rússia, especialmente em termos de energia. No entanto, tal crítica ignora a soberania e a jurisdição diplomática da Ucrânia. Não aborda a realidade de que a reviravolta de Yanukovych na assinatura do Acordo de Associação da UE e o subsequente acordo para ingressar na União Aduaneira foi uma escolha impopular entre os cidadãos ucranianos. De fato, isso exclui o fato de que grande parte da população queria diminuir a dependência econômica do país em relação à Rússia, fosse um passo lógico ou não. Ao colocar a culpa exclusivamente na UE pola politização dumaa escolha econômica, o livro de Sakwa também ignora completamente a própria visão de “soma zero” da Rússia sobre a Ucrânia.

Sakwa cita a observação  de Noam Chomsky de que o “movimento ousado” de Putin em anexar a Crimeia visava desafiar o direito autoproclamado dos EUA de estabelecer linhas vermelhas nos assuntos internacionais: “As linhas vermelhas americanas, em suma, estão firmemente colocadas nas fronteiras da Rússia. Portanto, as ambições russas “em sua própria vizinhança” violam a ordem mundial e criam crises”. No entanto, ele continua criticando jornalista e autor Oliver Bullough, a quem ele afirma ser culpado de ‘externalizar os problemas da Ucrânia, transferir a responsabilidade a Moscou, quando na verdade a Rússia foi forçada a se adaptar às realidades dumaa constelação de poder em mudança dentro da Ucrânia” . Assim, por um lado Sakwa argumenta que a Rússia está usando a Ucrânia testar a desequilibrada ordem internacional pós-Guerra Fria, mas, por outro lado, nao é lícito isentar Moscou de qualquer responsabilidade na escalada do conflito.

A polarização entre relatos pró-Ucrânia/pró-ocidental e pró-Rússia da crise da Ucrânia em ambos narrativas políticas e certos meios de comunicação significa que a análise e a interpretação tendem a ser jogadas em uma ou outra categoria, sem muito entre elas. Parece que a intenção de Sakwa não é quebrar essa tendência, mas relacionar, se não endossar, a ‘outra’ narrativa russa sobre o a polarização entre relatos pró-Ucrânia/pró-ocidental e pró-Rússia da crise da Ucrânia em ambos narrativas políticas e certos meios de comunicação significa que a análise e a interpretação tendem a ser jogadas numa ou outra categoria.

É necessário contar os dous lados da história para entender como a crise se agravou e enviar navios da OTAN não parece a melhor maneira de se submeter  autocrítica. Na verdade, o velho ditado de que “toda política é local” não é apenas uma frase vazia; é um lembrete permanente para não subestimar os impulsionadores locais da política e suas implicações para o quadro geral. Por esse motivo, Sakwa identifica como ponto de partida duas concepções e ideias domésticas diferentes e contrastantes dum estado ucraniano que estavam num equilíbrio híbrido de longa data antes de 2014.

Em 2015 o livro de Sakwa soava a pessimista e não estava enganado: o fim assimétrico da Guerra Fria (que descreve como monismo ocidental) é complementado pola dicotomia interna ucraniana não resolvida de concepções de estado monista versus pluralista (algo que compreendemos bem deste lado dos Pirenéus). Exigirá uma enorme quantidade de energia e abordagens inovadoras para resolver esses conflitos e a escalada militar não parece a melhor opção. Isso será excepcionalmente difícil, já que o conflito central entre o Ocidente mediado pola OTAN e a Rússia não é tanto sobre princípios internacionais e seus conteúdos, mas sim sobre a questão de quem tem o direito de estabelecê-los e/ou abrir exceções. É exatamente neste contexto que a usual “analogia do Kosovo” ou resistência russa contra a adesão ucraniana e georgiana à OTAN deve ser entendida.

Kiev vê os acordos de Minsk como um cavalo de Tróia para a influência russa porque postulam um “status especial” para as regiões soberanistas, Donetsk e Luhansk, e realizar eleições nesses territórios. Porém, Zelenskyy está comprometido com os interesses ultranacionalistas ucranianos. Não deve surpreender ainda que a Rússia continue a querer uma Ucrânia em sua esfera e não na dos EUA. Para o Kremlin, a Ucrânia é a linha de frente em sua batalha contínua para bloquear as incursões ocidentais em sua vizinhança, que vê como uma ameaça à própria Rússia. Esse objetivo está subjacente às disposições políticas que os negociadores russos insistiram nos acordos de Minsk. O  paradoxo é que quanto mais a Rússia pressiona para impedir que as potenciais ocidentais aprofundem seus laços com Ucraina, mais fortes esses laços se tornam.  Moscou e Bruxelas deveriam fitar para o  NATO-Russia Founding Act de 1997(Ato Fundador sobre Relações Mútuas, Cooperação e Segurança entre a OTAN e a Federação Russa Assinado em Paris, França”, OTAN, 27 de maio de 1997), polo qual a OTAN afirmou à Rússia que não tinha “nenhuma intenção, nenhum plano e nenhuma razão para implantar armas nucleares no território de novos estados membros” e nenhum plano para “estacionar permanentemente forças de combate substanciais” alá. A  escalada atual corre o risco de derrubar o que resta da segunda promessa.

Na última hora Lavrov e Blinken discutem em Genebra  o que fazer com a Ucrânia. A UE não está presente nem esperada, exceto como escudo e tropa sipaia, que é para que servem as colônias.A soberania da Ucrânia, bem

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